sexta-feira, 5 de junho de 2009

SOBRE PLANTAR MAÇÃS NA VARANDA DO APARTAMENTO...

Paisagem de almofadas coloridas pelo chão, pequeno sofá, cobertor amassado e frio na manhã anunciam um abril que já se finda entre meus dedos inquietos. Este dia que voa sobre mim sabe que meu coração anseia um tilintar de uma esperada surpresa . É que há duas semanas planto cuidadosamente sementes de maça na pilasta da varanda. Deposito na terra fértil do tempo e no cimento cinza da varanda do apartamento. Agora já são sementes de duas maças, enfileiradas e gotas de chuva salpicam um ar de esperança insólida. A primeira maçã reluzia um frescor alvo, exibindo que quando flor foi beijada por pássaros e regada por luz suave e terna, e seu rebento foi agraciado pela espera. Minha ânsia espremia sua notoriedade de maça mas não das sementes. Já as estrelas se faziam vistas da varanda quando em solene trivialidade aninhei as sobras com as sementes no canto esquerdo da pilasta. Lá fora o movimento de carros e edifícios no bailar de rotinas de encontros e despedidas. Será que os Deuses comerão as sementes da maçã? Será que me vêem daqui? A segunda maçã é alma Irmã da primeira. Um pouco menor em tamanho apenas. Se aquecem agora.Lado a lado mantém as sementes seguras e nas sementes guardados os segredos. Espio a ternura deste fato. Me denuncio que o entregá-l a a companhia da primeira maçã nasceram dúvidas, as ervas daninhas. E se o vento a levar pra longe? E se ressecar demais com o calor do Sol? E se derreter com bater da chuva? E se houver fim como sempre há?E se houver fim apenas? Quieta! A semente sabe o segredo da morte eu não. Há duas semanas que permanecem alí. Um fato estranho para ser observado por uma visita. Paisagem de sapato vermelho, quadro antigo rabiscado e tapetes exaustos desmaiados em cima de mais sapatos. A manhã já se finda entre as persistentes nuvens de abril. Há dois dias retirei as sementes de maçã da varanda.
Estou escrevendo um blog porque me pediram, porque talvez acaricie olhares estrangeiros em minha janela e por motivos que ainda desconheço. É possível que haja a pretensão de anunciar a outros os confins da minha alma e é provável que não haja pretensão alguma ..ah e é certo: pretensão alguma de ser coerente. Apenas gente, apenas lembranças, fatos cotidianos e calafrios. A janela são os olhos. Fechados, abertos,mas sempre sonhando e para dentro. Espiando o mundo e os espelhos. A janela é um quadro pendurado em minha casa de infância em Carinhanha. Até hoje me pego menina de cabelos embaraçados e pernas tortas (dessas que os joelhos esticam para traz) plantadas em frente ao dito quadro. Olhos grudados na vidraça ..janelas que se abrem ao desconhecido. Um quadro apenas, um olhar atento e inventivo...